setembro 30, 2010

Ela é exatamente como os seus livros: transmite uma sensação estranha, de uma sabedoria e uma amargura. É lenta e quase não fala, tem olhos hipnóticos, quase diabólicos, e a gente sente que ela não espera mais nada de nada nem de ninguém, que está absolutamente sozinha e numa altura tal que ninguém jamais conseguiria alcançá-la. Muita gente deve achá-la antipaticíssima, mas eu achei linda, profunda, estranha, perigosa.

Caio F. Abreu

setembro 29, 2010

Relato incompleto.

Descanço meus olhos sob as lembranças, desejos, medos que guardo em mim.
Transformo-me apenas em sentimentos.
Ignoro o corpo que torna-se onisciente, sou totalmente alma, fúria, calma, ódio, sou amor.
Sou o que você vê, o simples e o complexo.
Fragmentos de saudade, felicidade, tristeza, pura emoção!
Minha alma não tem molde, mudo conforme necessito,
não tento medir o que sinto, é impossível.

Deixo por aqui um relato incompleto, desabafo instantâneo, sem pretensão de conclusão.

Devolve moço!

Existe aqui uma mulher
Uma bruxa, uma princesa
Uma diva, que beleza!
Escolha o que quiser.
Mas ande logo,
Vá depressa,
Nem se atreva
A pensar muito.
O meu universo
Ainda despreza
Quem não sabe
O que quer...

Meu coração

Eu pus no bolso
Mas apareceu um moço
Que tirou ele dali
Não!
Isso não é engraçado
Um coração, assim, roubado
Bate muito acelerado...

Devolve, moço
Devolve, moço
O meu coração no bolso...


Ana Cañas


setembro 11, 2010

Sentimento sem nome, desejo desvairado.

Assumo minhas necessidades, carências e idealizações como passagem para o meu embarque nessa viagem.
A cada lembrança tenho a sensação de estar sobrevoando o universo junto a cauda de um cometa, é estonteante de tão encantador.
Deixei-me levar, mesmo sem intenção, porém, acompanhei cada passo como se fosse outro a observar, isso até tem sua graça.
Busco em meus sonhos aqueles beijos de neon, os quais tanto aguardo com vontade aguda, assim como os abraços sinceros e apertados para a troca de boas energias, as quais te ilumina por inteiro.

Pergunto-me:
Como pude cair nessa armadilha?
Como explicar essa repercurssão consequente da simples e breve atração de uma noite?

E você nem imagina o quanto fui calculista...

Sinto uma dor gostosa, é um medo tão inexplicável o de lhe esperar,
Diferente, até que agradável...
Creio que a melhor definição seria uma sensação agridoce, isso... agridoce!
Eu flutuo nas asas da minha imaginação, é como sentir seus sutis toques pelo meu corpo.

Com as minhas expectativas e coração em mãos!
Leve-me no colo ou pela mão!
Guie-me por toda a tua alma, tenho sede de cada espacinho seu!
Mas por favor, se apresse, ignore os passos do tempo,
O tictaquear do relógio dói em meu peito, nessa espera angustiante e feroz.

Lhe aguardo,
Sob o manto da mãe lua que eis de iluminar o momento sonhado.

setembro 07, 2010

Trecho de Teatro Completo - Caio F. Abreu

[...]

Baby -
Quem é você para colocar um epitáfio sobre mim? Quem é você pra dizer que eu não dei certo? Por acaso você deu? Olhe dentro do meu olho e me responda: você se sente feliz? Você tem esperança? Eu não. Eu, cruamente, não.

Baby
- Quando olho pra mim mesmo, não gosto do que vejo. Mas quando olho pra você, gosto muito menos. Os amigos desaparecem no momento exato em que você precisa deles. O mundo te machuca. As pessoas te empurram nas filas, dentro dos ônibus, nas esquinas. Tudo grita na sua cara que você não vale absolutamente nada. Quando olho pra você, quando olho pra mim, não posso evitar de pensar que o homem é apenas um animal que não deu muito certo.

Baby - Quem se importa com meu olho escancarado e cheio de desencanto? Quem, entre todos vocês, estenderá a mão para passar no meu cabelo? Quem cantará um acalanto para a minha insônia?

Baby - Não espero nenhum olhar, não espero nenhum gesto, não espero nenhuma cantiga de ninar. Por isso estou vivo. Pela minha absoluta desesperança, meu coração bate ainda mais forte. Quando não se tem mais nada a perder, só se tem a ganhar. Qaundo se pára de pedir, a gente está pronto para começar a receber. O futuro é um abismo escuro, mas pouco importa onde terminará a minha queda. De qualquer forma, um dia seremos poeira. Quem é você? Quem sou eu? Sei apenas que navegamos no mesmo barco furado, e nosso porto é desconhecido. Você tem seus jeitos de tentar. Eu tenho os meus. Não acredito nos seus, talvez também não acredite nos meus próprios. Não lhe peço que acredite em mim.

Baby - Quanto a mim, acredito nas plantas, nos animais. Acredito nos astros, nas águas. Acredito no vento que sopra da banda do rio quando o sol acaba de se pôr. Acredito na pedra bruta, na areia seca.

Baby - Como posso acreditar outra vez no humano?

EGO - Muitas gerações passaram. E muitas passarão.

[...]